Ando pela calçada. As vitrines se apresentam com seus letreiros coloridos e brilhantes, chamativos, encantadores. Cada uma dessas fachadas, uma nova promessa. Meu caminho contém uma série desses dispositivos.
“Há opções”, me dizem.
Não devo me demorar a escolher, também me dizem. Mas, ainda há tempo para alguma dúvida. Às vezes, uma dessas fachadas me atrai. Talvez seja a iluminação certa, talvez seja o preço baixo. Não me importo em saber o que é. Entro, olho, ponho a mão, sinto o cheiro. Me interesso um pouco por isso ou aquilo, mas quase nunca levo alguma coisa. Quando levo, perco o interesse logo. No fundo, nada ali é novo, embora tudo seja novidade.
Sigo atenta às vitrines. Em cada uma, a propaganda de novas possibilidades, o anúncio de novas estações, a chamada para a próxima versão, ou para a melhor solução. Há vitrines abarrotadas, entulhadas, empoeiradas; há outras com visual clean, elegante, discreto. Há umas que convidam todo mundo a entrar; outras deixam claro que o que expõem não é para qualquer uma.
Me pergunto se sou qualquer uma.
Mas não há tempo pra isso, as horas estão passando. O sol já vai baixo no horizonte e logo tudo fecha. Tento me lembrar do que eu preciso, o que eu estou buscando. Não tenho certeza do que era, se é que era algo. Talvez eu só estivesse de passagem. Mas agora há uma urgência, é preciso escolher logo. Sigo olhando, atônita, confusa, procurando.
O quê, mesmo?
Completamente perdida, as opções todas para nem-sei-o-quê me parecem caras demais, brilhantes demais, promissoras demais. Vendedores agora se avolumam nas portas das vitrines, gritam, me enfiam nas mãos amostras grátis de tudo quanto é coisa que não preciso. Anoitece, e me cercam os olhares de reprovação por ainda não estar decidida. Vejo os letreiros se apagarem, as portas se trancarem, os alarmes se ativarem. É o fim.
Fico ali parada, com a culpa por não ter escolhido nada.
E com a estranha sensação de que afinal a mercadoria era eu mesma.
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