Meu caminho é construído a partir de mil estradas sem nomes, imprevisíveis. O desconforto domina: sinto calor, o ar me sufoca, os barulhos me ensurdecem. Não há rotas pré-determinadas, sinalizações que indiquem por onde seguir, nem garantias sobre o que encontrarei ao final. Há apenas expectativas, desejos e receio do que virá pela frente.
Ao traçar meu percurso, inédito e desconhecido, sinto medo — mas hoje, sei que é do medo que extraio minha coragem. Andar na beira do precipício sem tomar conhecimento dele é irresponsabilidade. Corajosa é aquela que segue pela encosta do abismo apesar do medo, reconhecendo que é preciso cuidado para não cair.
Pois sigo, cuidadosa e corajosamente. O velho mapa que me guiava pela vida — fruto de mil conselhos e lugares-comuns — já está gasto, rasgado e desatualizado: não me serve mais. Avalio cuidadosamente cada encruzilhada a que chego; pouso os pés delicadamente no chão a cada passo; paro, escuto, farejo, me apoio em tudo que meus sentidos me oferecem, buscando me orientar. Às vezes, tenho a vaga sensação que piso onde já pisei antes, e me pego confabulando sobre que outras vidas já me levaram por aquelas mesmas estradas.
Durante o percurso, escuto vozes que soam distantes, ecos que vêm do passado longínquo, me lembrando que um dia eu já soube por onde eu queria ir, mas fui impedida. Questiono se são lembranças reais ou inventadas — talvez eu esteja ficando louca, finalmente. Mas na falta de bússola mais bem ajustada, me valho dessa loucura para guiar meus passos.
E eis que, inesperadamente, olho em volta prestando atenção e noto que me sinto confortável aonde cheguei. Aqui, sinto uma lufada de vento doce, inalo um perfume verde-alecrim, escuto sons macios e coloridos. Pouco a pouco me aposso da nova localidade, investigo suas peculiaridades, e nomeio os percursos que trilhei para chegar até ela. Me sinto em casa. Descanso, sabendo que logo devo voltar a caminhar.
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